quinta-feira, 23 de outubro de 2014

CRÔNICA



MEU AMIGO GLAUQUITO

A gente tinha dessas: coisa de fechar a Folha lá pelas onze da noite e pegar o mesmo taxi e seguir o mesmo itinerário até chegar no Longchamp, na rua Augusta. Vou contando. Fechamento é pra quem tem sangue nos zóio. O Glauco chegava sempre na hora agá. O secretário de redação, cujo nome delicadamente declino, já estertorava e relinchava. Pois que o nosso rapaz de olhos translúcidos passava tranquilamente pela Editoria de Arte, descarregava as tirinhas da próxima semana e seguia tropicando e cumprimentando cada um dos companheiros de tamanha labuta até alcançar o mesão. Pegava na beirada da cópia do Editorial, lia por alto e em dois minutos, no máximo três, entregava a porra da charge da página 2. Então que ele encostava na bancada dos diagramadores, e todos nós com aquela pressão diária do deadline de fechamento do jornal latejando nas têmporas, e ficava me esperando. Quase sempre o Jairzinho e o Emílio Damiani iam juntos. Voltando um tanto, ou indo em frente. Chegávamos no tal do bar Longchamp, aquele que tinha só um baita de um balcão oval e cadeirinhas altas com encosto de ferradura, e já encontrávamos o resto do povo. Vou te contar, quase meia-noite e só então a noite, noite mesmo, começava.
O resto eu conto depois.

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