quarta-feira, 11 de março de 2015

POLÍTICA - OPINIÃO



O QUE FALTOU DIZER

Por MAURO SANTAYANA

Em pleno bombardeio institucional — Dilma Roussef foi vaiada em uma feira de construção em São Paulo, apesar de seu governo ter financiado a edificação de dois milhões de casas populares — e às vésperas da realização de manifestações pedindo o impeachment da Presidenta da República, sua assessoria preparou um discurso para a sua estréia em Rede Nacional de Rádio e Televisão no segundo mandato rico em lero-lero e pobre em informações.
O grande dado econômico dos "Anos PT" não são os 370 bilhões de dólares de reservas monetárias que deveriam, sim, ter sido mencionados, ao lado do fato de que eles substituem, hoje, os 18 bilhões que havia no final do governo FHC — exclusivamente por obra e graça de um empréstimo de 40 bilhões do FMI, que foi pago em 2005 pelo governo Lula —; nem mesmo a condição que o Brasil ocupa, agora, segundo o próprio site oficial do tesouro norte-americano, de quarto maior credor individual externo dos Estados Unidos; mas o fato de que o PIB, apesar de ter ficado praticamente estagnado em 2014, saiu de 504 bilhões de dólares em 2002, para 2 trilhões e 300 bilhões de dólares, em 2013, com um crescimento de mais de 400% em 11 anos, performance que talvez só tenha sido ultrapassada, nesse período, pela China.

E, isso, conforme, não o "IPTE" — como está sendo apelidado o IBGE pelos "Hitlernautas" de plantão nas redes sociais — mas segundo estatísticas da série histórica do site oficial do Banco Mundial.

Faltou também dizer que não houve troca de dívida pública externa por interna, já que, no período, a dívida pública líquida caiu de quase 60% do PIB, em 2002, para aproximadamente 35% agora, depois de ter praticamente duplicado no governo Fernando Henrique, com relação ao final do governo Itamar Franco.

Há outros dados que poderiam negar a tese de que o país inviabilizou-se economicamente nos últimos anos, como o aumento do salário mínimo de 50 para mais de 250 dólares em menos de 12 anos, ou a produção de grãos e de automóveis ter praticamente duplicado no período.

É claro que o PT cometeu erros graves, como:
• estimular a venda de carros sem garantir a existência de fontes nacionais de combustíveis, gastando bilhões de dólares no exterior na compra de gasolina, quando poderia ter subsidiado, em reais, a venda de etanol nacional no mercado interno, diminuindo a oferta de açúcar no mercado internacional, enxugando a disponibilidade e aumentando os ganhos com a exportação do produto;
• ou o de dar início a grandes obras de infraestrutura — de resto absolutamente necessárias — sem se assegurar, antes, por meio de rigoroso planejamento e negociação, que elas não seriam interrompidas dezenas de vezes, como foram.

Quem quiser pode encontrar outros equívocos que ocorreram nestes anos, e que poderiam ter sido corrigidos com a participação de outros partidos, até mesmo da "Base Aliada," se sua colaboração não se limitasse ao interesse mútuo na época das campanhas eleitorais, e à chantagem e ao jogo de pressões propiciados pelos vícios de um sistema político que precisa ser urgente e efetivamente reformado.
Mas o anti-petismo prefere se apoiar — como Goebbels — na evangelização de parte da opinião pública com mentiras a apontar os erros reais que foram cometidos, e debruçar-se na apresentação de alternativas que partam do patamar em que o país se encontra historicamente, agora; soluções que extrapolem a surrada e permanente promoção de receitas neoliberais que se mostraram abjetas, nefastas, e indefensáveis no passado, e a apologia da entrega, direta e indireta, do país e de nossas empresas, aos interesses e ditames estrangeiros.

No discurso do governo — súbita e tardiamente levado a reagir, atabalhoadamente, pela pressão das circunstâncias — continua sobrando "nhenhenhém" e faltando dados, principalmente aqueles que podem ser respaldados com a citação de fontes internacionais, teoricamente acima de qualquer suspeita, do ponto de vista dos "Analistas do Mercado". Isso, quando o seu conteúdo — em benefício principalmente do debate - deveria ser exatamente o contrário.


MAURO SANTAYANA Prêmio Esso de Reportagem de 1971, fundou, na década do 1950, O Diário do Rio Doce, e trabalhou, no Brasil e no exterior, para jornais e publicações como Diário de Minas, Binômio, Última Hora, Manchete, Folha de S. Paulo, Correio Brasiliense, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil onde mantêm uma coluna de comentários políticos.Cobriu, como correspondente, a invasão da Checoslováquia, em 1968, pelas forças do Pacto de Varsóvia, a Guerra Civil irlandesa e a Guerra do Saara Ocidental, e entrevistou homens e mulheres que marcaram a história do Século XX, como Willy Brandt, Garrincha, Dolores Ibarruri, Jorge Luis Borges, Lula e Juan Domingo Perón. Amigo e colaborador de Tancredo Neves, contribuiu para a articulação da sua eleição para a Presidência da República, que permitiu a redemocratização do Brasil. Foi secretário-executivo da Comissão de Estudos Constitucionais e Adido Cultural do Brasil em Roma. É um jornalista autodidata brasileiro.

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