A MÍDIA NÃO QUER QUE O GOVERNO
MEXA NA 'BOLSA IMPRENSA’
Por PAULO NOGUEIRA*
“O PT busca golpear as receitas publicitárias dos veículos de informação – o que poderia redundar, no futuro, no controle de conteúdo pelo governo.”
Acesse: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/
Por PAULO NOGUEIRA*
“O PT busca golpear as receitas publicitárias dos veículos de informação – o que poderia redundar, no futuro, no controle de conteúdo pelo governo.”
Está na Veja, e raras vezes ficou tão clara a
dependência financeira e mental que as grandes corporações jornalísticas têm do
dinheiro público expresso em publicidade federal.
Havia, naquela frase, uma
alusão à decisão do governo de deixar de veicular propaganda estatal na Veja,
em consequência da capa criminosa que a revista publicou às vésperas das
eleições.
Era o mínimo que se poderia
fazer diante da tentativa de golpe branco da Abril contra a democracia.
Mas a revista fala em “golpear
as receitas publicitárias” da mídia corporativa.
A primeira pergunta é: as
empresas consideram direito adquirido o ‘Bolsa Imprensa’, o torrencial dinheiro
público que há muitos anos as enriquece – e a seus donos – na forma de anúncios
governamentais?
Outras perguntas decorrem desta
primeira.
Que capitalismo é este
defendido pelas empresas jornalísticas em que existe tamanha dependência do
Estado e do dinheiro público?
Elas não se batem pelo Estado
mínimo? Ou querem, como sempre tiveram, um Estado-babá?
Os manuais básicos de
administração ensinam que você nunca deve depender de uma única coisa para a
sobrevivência de seu negócio.
E no entanto as grandes
empresas de comunicação simplesmente quebrariam, ou virariam uma fração do que
são, se o governo federal deixasse de anunciar nelas.
Tamanha dependência explica o
pânico que as assalta a cada eleição presidencial, e também ajuda a entender as
manobras que fazem para eleger um candidato amigo.
Essa festa com o dinheiro
público tem que acabar, e famílias como os Marinhos e os Civitas têm que
enfrentar um choque de capitalismo: aprender a andar sem as muletas do dinheiro
público.
Ou, caso não tenham competência
para sobreviver num universo sem favorecimentos, que quebrem. O mercado as
substituirá por empresas mais competitivas.
Não são apenas anúncios: são
financiamentos a juros maternais em bancos públicos, são compras de lotes de
assinaturas de jornais e revistas, são aquisições enormes de livros da Abril,
da Globo etc.
Numa entrevista a quatro
jornais, ontem, Dilma disse que o novo governo vai olhar com “lupa” as
despesas, para equilibrar as contas e manter sob controle a inflação.
Não é necessária uma lupa para
examinar as despesas com publicidade.
Entre 2003 e 2012, elas quase
dobraram, segundo dados do Secom. De cerca de 1 bilhão de reais, foram para as
imediações de 2 bilhões ao ano.
Apenas a Globo – com audiência
em franca queda por causa da internet – recebeu 600 milhões de reais em 2012.
Um orçamento base zero, como os
livros de gestão recomendam, evitaria a inércia dos aumentos anuais do governo
com esse tipo de despesa.
Murdoch, em seu império mundial
de mídia, tem dependência zero de publicidade de governos.
Banco estatal nenhum financia
seus empreendimentos, e por isso ele quase quebrou na década de 1990 quando não
conseguiu honrar os empréstimos para ingressar na área de tevê por satélite.
Foi obrigado a se juntar a um
rival em tevê por satélite. Só agora Murdoch teve os meios para tentar comprar
a outra parte, mas o governo inglês negou por conta do escândalo do News of the
World.
Ele se bate pelo capitalismo, e
pratica o capitalismo.
As empresas jornalísticas
brasileiras pregam o capitalismo, mas gostam mesmo é de cartório.
E julgam, pelo que escreveu a
Veja, que até o final dos tempos estão aptas a receber o Bolsa Imprensa.
Acesse: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/
* Paulo Nogueira
é escritor e jornalista.
É fundador
e diretor
editorial do site
de notícias
e análises
Diário do Centro do Mundo.
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