O prof tentando disfarçar o constrangimento |
O
PROFESSOR CONSTRANGIDO
Ano passado
ele era um, agora nem mesmo ele sabe mais quem é. Hoje peguei a senhorita, que se diz machão, fazendo
pose no boteco. Quando cheguei, quer dizer, eu não chego, adentro, com minha
possante Janbiquara 858 cc e já estaciono. Quando desmontei percebi que o
menino estremeceu. Trajava ele roupinhas pra não dar bandeira, por exemplo:
bermuda verde bandeira e t-shirt, que é como ele chama a porra da camiseta preto
fosco brilhante justinha. Ao me ver, babou, meu bem, nem te conto. Entrei direto. Cumprimentei Anésio,
cumprimentei Soares, cumprimentei o cão que passava, um tal de Jack, ou
Daniels, vai saber, esses cães vadios mudam de nome a toda hora, cumprimentei o Saulo, caçador de passarinhos e dono do boteco citado, cumprimentei um monte de
pessoas e fiquei estacionado na beira do balcão, explorando aquele Campari com
meio limão espremido e três (3) pedras de gelo. Senti o constrangimento do
senhor professor se escondendo na cadeirinha, aquele bundão mal cabia lá. Fiquei
na minha. O cara me deve pelo menos oito (8) meses de trabalho forçado que fiz
na confiança, mas que ficou assim assim. O trampo era simples, bastava eu ir limpando
diariamente as sujeiras dele, sem contar pra ninguém, que tudo ficaria bem. No
dia tal de cada mês tal, o teacher de 2000 alunos por semana na faculdade tal
me daria tantos tals em money. Dia tal passou, mês tal passou. E assim foram se
passando os meses, anos e tals. Coisa difícil de absorver. Fiquei puto e disse
adeus. Adeus menino, adeus dono do carrão que você nunca comprou pra seu
irmãozinho capeta e virado no colchão, aquele um. Enfim, disse adeus. Perdi
meia fortuna.
Mas no boteco,
deixando de viajar na maionese do bauru que o Saulo sempre faz nos momentos de
maiores aperturas de laricas momentâneas, percebi que a chuva começou a nos abençoar. Boa
noite, chuva, eu disse. Boa noite, reponderam. Era o Dentadura que chegava ao
recinto sedento de cervejas e conversas. Fomos pruma mesa na varanda e, não por acaso, sentei de frente pro prof de 200 mil alunos
por semana. A chuva começou a decair e inundar o mundo. O prof sempre teve medo de
molhar os pézinhos, as bermudinhas verde-bandeira e a as madeixas acajú e, então, não se locomoveu. Mas o constrangimento
do carinha devedor de salários e salários pra euzinho aqui ficou num estado de
nervos que só faltava ouvir os peidinhos dele saindo, saindo, saindo pelos vãozinhos da cadeira de ripinhas.
Bem, Pretinho
chegou e começamos a falar de esculturas. Dentadura falava pouco, mas ficamos entornando
as brejas e falando inclusive de restaurações de escadas e de construções
de bares por debaixo dos vãozinhos das propriamente ditas escadas que sempre existem por aí nos sobrados. Quando percebi, o prof tinha desembestado embaixo da chuvarada. Tadinho, molhou
a bermudinha e foi, aposto, mordendo as unhinhas esmaltadas.
Pra terminar.
Eu, Dentadura e Pretinho entornamos mais umas e pronto, pagamos as contas só pra
recebermos a benção de boa noite do Saulo, caçador de passarinhos e dono do
boteco. Montei na possante e cheguei aqui. Eita noitinha lesgal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário