terça-feira, 23 de dezembro de 2014

CRÔNICA - LALO ARIAS

O prof tentando disfarçar o constrangimento

O PROFESSOR CONSTRANGIDO

Ano passado ele era um, agora nem mesmo ele sabe mais quem é. Hoje peguei a senhorita, que se diz machão, fazendo pose no boteco. Quando cheguei, quer dizer, eu não chego, adentro, com minha possante Janbiquara 858 cc e já estaciono. Quando desmontei percebi que o menino estremeceu. Trajava ele roupinhas pra não dar bandeira, por exemplo: bermuda verde bandeira e t-shirt, que é como ele chama a porra da camiseta preto fosco brilhante justinha. Ao me ver, babou, meu bem, nem te conto. Entrei direto. Cumprimentei Anésio, cumprimentei Soares, cumprimentei o cão que passava, um tal de Jack, ou Daniels, vai saber, esses cães vadios mudam de nome a toda hora, cumprimentei o Saulo, caçador de passarinhos e dono do boteco citado, cumprimentei um monte de pessoas e fiquei estacionado na beira do balcão, explorando aquele Campari com meio limão espremido e três (3) pedras de gelo. Senti o constrangimento do senhor professor se escondendo na cadeirinha, aquele bundão mal cabia lá. Fiquei na minha. O cara me deve pelo menos oito (8) meses de trabalho forçado que fiz na confiança, mas que ficou assim assim. O trampo era simples, bastava eu ir limpando diariamente as sujeiras dele, sem contar pra ninguém, que tudo ficaria bem. No dia tal de cada mês tal, o teacher de 2000 alunos por semana na faculdade tal me daria tantos tals em money. Dia tal passou, mês tal passou. E assim foram se passando os meses, anos e tals. Coisa difícil de absorver. Fiquei puto e disse adeus. Adeus menino, adeus dono do carrão que você nunca comprou pra seu irmãozinho capeta e virado no colchão, aquele um. Enfim, disse adeus. Perdi meia fortuna.
Mas no boteco, deixando de viajar na maionese do bauru que o Saulo sempre faz nos momentos de maiores aperturas de laricas momentâneas, percebi que a chuva começou a nos abençoar. Boa noite, chuva, eu disse. Boa noite, reponderam. Era o Dentadura que chegava ao recinto sedento de cervejas e conversas. Fomos pruma mesa na varanda e, não por acaso, sentei de frente pro prof de 200 mil alunos por semana. A chuva começou a decair e inundar o mundo. O prof sempre teve medo de molhar os pézinhos, as bermudinhas verde-bandeira e a as madeixas acajú e, então, não se locomoveu. Mas o constrangimento do carinha devedor de salários e salários pra euzinho aqui ficou num estado de nervos que só faltava ouvir os peidinhos dele saindo, saindo, saindo pelos vãozinhos da cadeira de ripinhas.
Bem, Pretinho chegou e começamos a falar de esculturas. Dentadura falava pouco, mas ficamos entornando as brejas e falando inclusive de restaurações de escadas e de construções de bares por debaixo dos vãozinhos das propriamente ditas escadas que sempre existem por aí nos sobrados. Quando percebi, o prof tinha desembestado embaixo da chuvarada. Tadinho, molhou a bermudinha e foi, aposto, mordendo as unhinhas esmaltadas.
Pra terminar. Eu, Dentadura e Pretinho entornamos mais umas e pronto, pagamos as contas só pra recebermos a benção de boa noite do Saulo, caçador de passarinhos e dono do boteco. Montei na possante e cheguei aqui. Eita noitinha lesgal.

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