segunda-feira, 27 de abril de 2015

POESIA - LALO ARIAS

WALT WHITMAN
A RESPEITO DE POETAS E ANJOS
 Todo poeta é um anjo trágico - disse-me Clóvis, também poeta. Walter atravessou a tragédia e campos de guerra, mas curou feridas e celebrou a vida. Neto vedou as frestas e abriu o gás. Allen chorou e uivou sobre o leito de despedida de sua mãe; arrastou multidões para campos de paz e celebrou a vida. Gregório caminhou pela linha férrea com seu pequeno filho sobre os ombros e a mochila lotada de relógios esquecidos. Arthur trocou a palavra e a corte por desertos, com um embornal de ouro na cintura e camelos carregados de armas, panos e especiarias. Ana saltou pela janela. Ferreira destratou Samuel, que já morrera, dizendo que bons poetas não discorrem sobre o tédio, mas celebram a vida. Perdoe-me, caro Ferreira, o tédio também faz parte da vida. Jacó recebeu Gregório na soleira de sua casa entorpecido por birinaites e arrebites. Carlos virou estátua fria, sentado num banco de avenida em plena cidade do Rio de Janeiro. Jonas - que sou eu - passa pela vida como folha levada pelo vento e não vê crescer sua filha. Lourenço iluminou a cidade com seu parque de diversões na cabeça. Federico desapareceu. Jorge ficou cego, mas leu a humanidade toda. Mario virou passarinho em seu próprio quintal. Paulo, que falou todas as línguas, morreu de saquê e de judô.
 Imagino todos os poetas numa roda, ciranda de índios, em algum lugar não muito distante, gesticulando, falando alto, entornando bebida, guerreando, criando a paz e celebrando a vida.

(novembro, 2007)

Nenhum comentário:

Postar um comentário